“Cage Free” ou Aves soltas: o que sabemos até agora?

“Eu sou ave solta, sou canário sabiá. Canto vida toda, não me canso de cantar.” É assim que começa a música “Esse é meu destino” do Renato Teixeira e sempre que penso em criação de aves soltas me recordo dessa letra. Já falamos bastante aqui no blog sobre o ovo, desde o que é o ovo caipira e suas diferenças com os ovos convencionais até ovo enriquecido e seus benefícios para nossa saúde . Mas e a galinha?

Cada um de nós tem uma teoria sobre quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. O senso comum diz que o ovo surgiu primeiro e os seguidores da teoria da evolução de Charles Darwin apoiam essa afirmação, pois acreditam que uma espécie evoluiu de outra mais primitiva. Sendo assim, as galinhas vieram dos dinossauros, que já botavam ovos, através de sucessivas mutações. O Arachaeopteryx teria sido o último dinossauro que marca a separação da linha evolutiva de dinossauros e pássaros. Seguido pela primeira ave, a Auronis xui, cujo fóssil encontrado na China foi datado com uma idade aproximada de 160 milhões de anos.

Entretanto, segundo a crença criacionista, existia um único casal de macho e fêmea, criada por Deus no início dos tempos, que copularam para formar dois ou mais ovos. Essa teoria de que a galinha nasceu primeiro tem ganhado força nos tempos atuais, pois pesquisas realizadas em universidades da Inglaterra demonstram que a formação da casca do ovo da galinha depende de uma proteína que só é encontrada nos ovários deste tipo de ave. Deste jeito, o ovo só poderia ter vindo depois da galinha.

A conclusão para esse paradoxo sempre causa muita controvérsia e está longe de ter um final feliz. Porém, com a galinha nascendo antes ou depois, é fato que elas viviam na natureza. Soltas e livres para expressarem seus comportamentos naturais. É a partir desse pensamento que, recentemente, alguns países começaram a questionar os modos de criação das galinhas de postura comercial.

Você sabe como vive uma galinha criada de forma convencional?

Para pessoas que moram em grandes cidades, é difícil conhecer ou imaginar a origem de alguns de nossos alimentos. Já ouvi muita criança dizer que o leite que ela toma vem da caixinha que seus pais compram no mercado. Essas crianças não sabem que o leite é retirado da vaca e depois embalado. A mesma coisa acontece com os ovos!

Atualmente o consumo de ovos tem crescido bastante no Brasil e, no ano passado, batemos nosso recorde em consumo de ovos por pessoa alcançando 230 ovos por ano. Com essa quantidade cada vez maior de pessoas comendo ovos, mais aves devem ser criadas para atender o volume de venda. Você sabia que 1 galinha bota 1 ovo por dia? Com essa informação é só fazer uma conta simples para entender quantas galinhas devem ser alojadas para termos a quantidade suficiente de ovo para toda a população do Brasil.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em 2018 o Brasil produziu quase 45 bilhões de unidades de ovos! A fim de suportar todo esse crescimento, o Brasil seguiu modelos de criação de aves em gaiola, que facilitam o manejo desses animais e permite alojar um maior número de animais em áreas menores. Inicialmente, as gaiolas eram distribuídas em até 3 andares de forma piramidal para que as fezes caíssem diretamente no chão.

Posteriormente, locais com espaço restrito começaram a alojar aves no modelo de gaiolas verticais de até 8 andares. Nesse tipo de estrutura, existe uma esteira no assoalho das gaiolas para coletar as fezes que caem das aves em cima e, assim, não sujar as aves do andar de baixo. Essa esteira é limpa no final do galpão de acordo com a necessidade da granja.

Em ambos os modelos de gaiolas, as aves têm acesso à ração e água sempre que desejarem e a quantidade de galinhas por gaiola é calculada para respeitar a densidade por metro quadrado previamente definida em Estudos científicos. Esses estudos consideram aspectos como temperatura, comportamento e produtividade.

Sendo assim, ao contrário do que as “fake news” mostram, o modelo de criação de aves em gaiola não causa nenhum dano intencional à saúde das galinhas. Até porque, se as galinhas estiverem sob algum prejuízo, as mesmas não irão produzir ovos e essa não é a intenção de nenhum produtor ou veterinário. Todos nós queremos as aves o mais saudável possível!

Por outro lado, na Europa, desde 2012 só são aceitos ovos de galinhas livre de gaiolas. Por quê? Esse sistema de criação livre de gaiola ficou conhecido por “Cage Free” ou “Aves Soltas” aqui no Brasil e é uma nova tendência na criação de aves poedeiras.

Cage Free ou Aves Soltas: galinhas livre de gaiolas é tendência mundial

O bem-estar animal (BEA) passou a ser uma tendência no mundo todo e surgiu para atender uma demanda de mercado consumidor cada vez mais atento e exigente em relação à produção de alimentos. Hoje em dia sabemos que existe uma parcela da população preocupada em como são produzidos os alimentos e em quais condições são criados os animais.

Desta forma, o foco que antes era na produtividade passou a ser o conforto dos animais. Segundo o Instituto Certified Humane, o BEA é norteado pelas 5 liberdades, que são:

Assim surgiu o movimento Cage Free, cuja ideia é trazer de volta as Galinhas para seu habitat natural e, desta forma, os comportamentos desejados para as aves livres de gaiola são: bater asa, ciscar e empoleirar. Contudo, no sistema Cage Free não há acesso das galinhas à área externa.

Aves com acesso a áreas de pastoreio, externas ao galpão, são criadas em outro tipo de sistema conhecido por “Free Range” que podemos abordar em outro texto aqui no blog. Esse tipo de sistema é o mesmo adotado pelos produtores de ovos caipira.

Unindo nesse tipo de criação mais natural ao aumento de consumidores mais preocupados com a origem de seus alimentos, grandes redes como McDonald’s, Subway, Habib’s, Burger King e Giraffas, grandes fabricantes de maionese como Unilever, Cargill, Bunge, Hemmer e Kraft Heinz, o grupo Pão de Açúcar e a Bauducco para pães e panetones se comprometeram a eliminar o uso de ovos de galinhas de gaiola entre 2020 e 2025.

Atualmente, a participação do sistema Cage Free no mercado brasileiro ainda é pequena e não suficiente para atender essa demanda para os próximos anos. Portanto, o ideal é que os compradores participem do planejamento para fazer essa adaptação na escala de produção e demanda por ovos livres de gaiola.

É importante frisar que todos os sistemas de produção defendem o bem-estar animal. Entretanto, com a possibilidade de criação de aves livres de gaiola, vivendo por 2 anos mais próximas do seu estilo de vida na natureza, seu nível de bem-estar nesse tipo de criação é maior. Popularmente, diz-se que aves criadas soltas são “galinhas felizes”.

A vantagem do sistema convencional, de acordo com a ABPA, é reduzir os custos e possibilitar uma oferta de fonte de proteína animal mais barata para toda a população. O movimento Cage Free surge, portanto, como um nicho de mercado que apresenta como principal proposta garantir maior conforto animal e que deverá crescer nos próximos anos.

Unindo a fome com a vontade de comer

Agora que você já entendeu como funciona esses dois tipos de criação de galinhas poedeiras, fica mais fácil de entender os tipos de produtos que encontramos no mercado. Hoje em dia, temos, principalmente, ovos convencionais, ovos de aves soltas, ovos caipiras, ovos orgânicos e ovos enriquecidos. E ainda a união de dois desses tipos de categorias. Nossa, quanto tipo de ovo! Porém, é muito fácil de entender, veja só:

  • Os ovos convencionais são, normalmente, os mais baratos e aqueles que encontramos nas bandejas de 20 ou 30 unidades. São ovos de galinhas alojadas em galpões com gaiolas e podem ser brancos ou vermelhos;
  • Os ovos de aves soltas são aqueles provenientes de galinhas que vivem livres, no chão, mas dentro de galpões e que podem ciscar, tomar banho de areia, caminhar, etc. Podem ser brancos ou vermelhos e deve estar indicado no rotulo do produto que são de aves livres de gaiolas;
  • Os ovos caipiras são de aves, normalmente, vermelhas e seguem algumas recomendações para serem enquadrados como caipiras. Temos outro texto aqui no blog que explica melhor o que é o ovo caipira;
  • Os ovos orgânicos são, normalmente, mais caros pois seguem recomendações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA, referente à ração fornecida para essas
    galinhas dentre outras que encarecem o sistema de produção;
  • Os ovos enriquecidos são produzidos pensando na alimentação funcional, ou seja, alimentos que possuem um nutriente a mais que contribui em algum aspecto da nossa saúde. Esse ovo pode ser rico, por exemplo, em ômega 3, vitamina E, selênio, etc. Saiba mais no nosso texto sobre ovo enriquecido. Podem ser de galinhas de sistema convencional ou de aves soltas, brancos ou vermelhos.

No caso dos ovos enriquecidos provenientes de aves soltas, temos a somatória de seus benefícios, ou seja, aves com alto nível de bem-estar animal mais atendimento nutricional de até 30% das recomendações diárias para ômega 3, vitamina E e selênio com apenas 1 unidade de ovo!

O ideal para entendermos esse mercado que cresce a cada dia com novas tendências e tipos de produtos é estarmos sempre atentos ao rótulo e a empresa que compramos nosso ovo. Fique ligado e até o próximo ovo frito!

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